Belíssimo trecho de O arco e a lira, livro do grande Octavio Paz que acabou de sair pela Cosac Naify. Recebi do Felipe Do Amaral.
“O tempo não está fora de nós, nem é algo que passa diante dos nossos olhos como os ponteiros do relógio: nós somos o tempo, não são os anos que passam, mas nós que passamos. O tempo possui uma direção, um sentido, porque ele é nós mesmos.
O ritmo realiza uma operação contrária à de relógios e calendários: o tempo deixa de ser medida abstrata e volta a ser o que é: algo concreto e dotado de uma direção. Contínuo emanar, perpétuo ir além, o tempo é um permanente transcender-se. Sua essência é o “mais” — e a negação desse mais. O tempo afirma o sentido de um modo paradoxal: possui um sentido — o ir além, sempre fora de si – que não cessa de negar a si mesmo como sentido. Destrói-se e, ao se destruir, repete-se, mas cada repetição é uma mudança. Sempre o mesmo e a negação só mesmo. Assim, nunca é apenas medida, sucessão vazia. Quando o ritmo se desdobra à nossa frente, algo passa com ele: nós mesmos. No ritmo há um “ir para” que só pode ser elucidado se, ao mesmo tempo, se elucida o que somos nós. […]
A relação entre ritmo e palavra poética não é diferente da existente entre dança e ritmo musical: não se pode dizer que o ritmo é a representação sonora da dança; tampouco que a dança seja a tradução corporal do ritmo. Todas as danças são ritmos; todos os ritmos, danças. No ritmo já está a dança e vice-versa.”
One response
[…] Minha intenção não é julgar você ou te criticar pelo o que você faz e pelo jeito que está fazendo. É apenas te lembrar de que você tem todo tempo do mundo pra fazer tudo aquilo que você quiser. Como disse Octavio Paz, “Nós somos o tempo” (li aqui). […]